Sobre
um poema
Um
poema cresce inseguramente
na
confusão da carne,
sobe
ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez
como sangue
ou
sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora
existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou
os bagos de uva de onde nascem
as
raízes minúsculas do sol.
Fora,
os corpos genuínos e inalteráveis
do
nosso amor,
os
rios, a grande paz exterior das coisas,
as
folhas dormindo o silêncio,
as
sementes à beira do vento,
-
a hora teatral da posse.
E
o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E
já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável,
único,
invade
as órbitas, a face amorfa das paredes,
a
miséria dos minutos,
a
força sustida das coisas,
a
redonda e livre harmonia do mundo.
-
Em baixo o instrumento perplexo ignora
a
espinha do mistério.
-
E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Obrigado Sammis Reachers, ao abrir a Caixa de Entrada dos e-mails de boletos e outras cotidianidades encontrar essa pérola:
ResponderExcluir"E o poema faz-se contra o tempo e a carne", bela imagem do que é poesia.
Olá meu nobre Pedro! Sim querido, são de lances assim que se renova nosso ânimo, em meio às lides da vida.
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