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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CARTA QUE UM JUDEU PODERIA TER ESCRITO EM BIRKENAU




Lembra-te de mim de vez em quando

Mesmo que seja só quando alguém

Perguntar por que desapareci no ar

diz-lhe simplesmente

Que não rejeitei meu nariz judeu, nem

Mesmo sem saber da minha tribo o nome

Rasguei no coração os livros de Moisés

Nem deixei de salmodiar às portas da morte

diz que o meu silêncio há-de ser

Uma torre que chegará ao céu

diz que estou órfão, um nome sem feições

Que um lento veneno

Entrou no sangue da nossa família

diz-lhe que com as minhas cinzas

Podem desenhar meu nome

Ainda que o rio Vístula as tenha

Levado de espuma em espuma.


25/11/2017
©  João Tomaz Parreira

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