O CANÁRIO PRESO
Às
aves Deus dá o céu, a imensidade,
As
verdes florestas, os campos sem fim,
Os espaços, onde voam à vontade,
As
relvas virentes do imenso jardim.
Mas,
vil homem mau, egoísta, perverso,
Vendo
a liberdade do pobre cantor,
Reduz
à gaiola o seu grande universo
E
dele se toma veraz opressor.
Assim
é, canário, que preso caíste
Na
infame gaiola, em que hás de viver!
Ficou
solitária a parceira e mui triste,
Cantando
outro canto de tédio e gemer.
Não
pode esquecer-te, mas canta baixinho,
Lembrando
os bons tempos que livres nos ares,
Ao
sopro das brisas, contentes no ninho,
Vivíeis
juntinhos, sem dor, nem pesares.
Agora
cativo, qual vil degradado,
Sem
mais esperança de libertação,
Tu
arcas sofrido, co'a dor do teu fado,
Sem
mais distrações pelo vasto sertão.
Teu
vil prendedor, sim, ficou mui contente,
Com
o teu murmúrio, ao longo das horas,
Cantando
e chorando o teu hino dolente,
As
mágoas do peito no canto que choras!
Zenas de Resende Vieira
Do
livro Grão de areia nas praias do mar (Edições Cristãs Editora).