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sábado, 28 de outubro de 2017

Amor Celestial, poema de Ralph Waldo Emerson


Amor Celestial

Bem longe, lá no alto, 
Acima de tudo e de todos
Firmado no mais puro dos reinos, 
Acima do sol e das estrelas, 

Está a montanha do amor -
Corações que amam são fiéis,
Gostam do que é justo, por isso são tão caros , 
Ficam desgostosos com os falsos amores 
                                                              
Que preferem a si mesmos conferir louvores ;
Mas os que para amar foram desenhados,
E os  que para abençoar foram separados,  
Não podem cessar de estender a mão.


E não podem mais se esconder do irmão,
Pois é no ajudar que está a sua beleza,
E em ser humilde é que está a sua nobreza;
Pois esta é a riqueza do amor,


Não em repartir o ouro e o pão,
Nem em se vestir como um rico artesão,
Mas, em  fazer da simplicidade uma ciência,
E falar sempre o discurso da inocência,

E no calor do verão ou no frio do inverno                                                         
Levar sempre adiante o conselho do Eterno.     
...Porque Deus vem alimentar os homens todos os dias                   
Mas somente alguns estão com as mãos abertas para receber.


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Febre de Mar, poema de John Masefield


Febre de mar 

Eu devo ir para o mar novamente, para o mar e o céu solitário,
E tudo que peço é um pequeno navio e uma estrela para me guiar por ela,
E o golpe do volante e música do vento e a vela branca a tremer,
E uma névoa cinza sobre o mar e uma onda cinza quebrando.

Eu devo ir para o mar novamente, para encontrar a maré correndo cheia de vida
É um convite selvagem e um apelo claro que não pode ser negado;
E tudo que eu peço é um dia de vento, com nuvens brancas voando,
E um fluxo de espuma se espalhando, e os gritos das gaivotas.

Eu devo ir para o mar novamente, para a cigana vida errante,
Para o caminho da gaivota e da baleia, onde o vento é como um corte de faca aguçada;
E tudo que peço é um riso alegre e a risada de um companheiro vagabundo,
E o sono tranquilo e o doce sonho, quando o caminho for muito longo.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O QUE NÃO QUERO



Não quero uma coroa
que me esmague a cabeça, nem louros
que deem a impressão de ter impérios
Camões teve-a
em troca do seu olho e morreu de fome
Não quero coroas de rosas, que são para
as virgens que envelhecem sem destino
Nem muito menos
quero uma  coroa de espinhos
onde o  sangue floresça, só uma
cabeça a pôde ter e o sangue correu
pelo arco-íris dos seus olhos
Não quero nada, nem esse vinho
em taças de alabastro da poesia.   

04/10/2017

©  João Tomaz Parreira

domingo, 1 de outubro de 2017

Juventude, poema de Mário Faustino



. . .Juventude —
a jusante a maré entrega tudo —

maravilha do vento soprando sobre a maravilha
de estar vivo e capaz de sentir
maravilhas no vento —
amar a ilha, amar o vento, amar o sopro,
                                                [ o rasto —
maravilha de estar ensimesmado
(a maravilha: vivo!),
tragado pelo vento, assinalado
nos pélagos do vento, recomposto
nos pósteros do tempo, assassinado
na pletora do vento —
maravilha de ser capaz,
maravilha de estar a posto,
maravilha de em paz sentir
maravilhas no vento,
encapelado vento —
mar à vista da ilha,
eternidade à vista
do tempo —

o tempo: sempre o sopro
etéreo sobre os pagos, sobre as régias do vento,
do montuoso vento —
e a terna idade amarga — juventude —
êxtase ao vivo, ergue-se o vento lívido,
vento salgado, paz de sentinela
maravilhada à vista
de si mesma nas algas
do tumultuoso vento,
de seus restos na mágoa
do tumulário tempo,
de seu pranto nas águas do mar justo —
maravilha de estar assimilado
pelo vento repleto
e pelo mar completo — juventude —

a montante a maré apaga tudo 



em "O homem e sua hora e outros poemas". (Organização Maria Eugenia da Gama Alves Boaventura Dias). 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2002.