"C'était la Mort! Alors il la pria d'attendre
Qu'il
eût posé le point à son dernier sonnet!"
Do "Epitaphe" de Gérard de Nerval
(1808-1855)
Um dia chegou por trás da
cortina
insinuou-se pediu um cálice
de vinho
o último e melhor — disse —
que o melhor
é sempre o do fim. Bebeu de
mansinho.
Veio colhê-lo desapercebido
como uma flor
ainda no pico da cor da
essência mais fina.
Escrevia. Explicava às Musas
onde colocar
o ponto final do último poema
a entregar
ao sonho, que fosse a
lágrima ainda quente
do bronze mais perene, que
diga a glória ausente
do poeta. Ele deitou-se:
veio colhê-lo pela fronte,
embalsamou-lhe as mãos para
não mais escrever
e os olhos para não mais
ver. Esbate-se um horizonte
sempre que um poema acaba e
um poeta se cala.
Mas lá continuava o visitante
a beber.
O poeta lhe disse: espera
sentado, podes ficar a fazer sala.
Rui Miguel Duarte
11/03/2016
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