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domingo, 27 de julho de 2014

Portões de Esparta


Portões de Esparta

Portões de Esparta
estradas sulcadas
marcadas pelo arrastar de despojos

volto sem Orestes, Lísias e Aracturo:
há espartanos, sementes de tua expansão, ó Portão
enterrados por toda a Ilíria

Portões de Esparta,
                                     braços de minha Mãe
é tão bom repetir essa palavra proibida,
                                                                              ‘Mãe’

tem misericórdia de mim

Veja, mãe,
um ateniense me deu esta lira
Sim,eu tenciono tocá-la,
se algum dos escravos puder me ensinar

Me perdoe também
por retornar tão limpo,
banhei-me no Eurotas
e lavei-me do sangue da campanha

Ao ver do promontório a curva de teu pórtico
lembrei-me dos rostos dos sessenta e oito que matei
e seus olhos repetiram-se diante de mim
como num oráculo, e vi os cem olhos de Argo
me olhando dentro

Você, que sempre preferiu uma ferida a um abraço,
você não tem outro olhar
que não estes dois pratos fundos de desprezo?

Em Cólquida, comi larvas
com neve e lembrei-me
da senhora e sua sopa negra

- Mamãe Esparta!!!

Sempre quis gritar isso
Tenha calma
Dissolva a ira,
Não estapeie meu rosto, senhora
sou um homem agora
e trago meu corpo mapeado
de cicatrizes, e todas elas
são inscrições de teu nome,
tatuagens do Hades

Se não filho, que sou-lhe, cidadela severa?
Um tipo de herói, um tipo
heroico de besta?

Sim, lembro perfeitamente,
“a ternura não te salvará na guerra”,
“mas a força de teu braço,
sustentando o escudo contra
a multidão de golpes”

Sim, eles sustentaram
seu filhote de lobo sobreviveu
à Guerra, esse oceano onde o sumo
de todas as veias deságua


2
Portões de Esparta
gravidez de lâminas
aborto coletivo do medo

Bom dia Esparta
clangor, troca de suores
bom dia

adestramento todo o dia,
bom dia noite nua e fria,
golpes sucessivos

bom dia espada,
escudo meu esquife,
mortalha de bronze

excelente dia ó sopa
negra e imunda,
fome mascarada
massacrada

Boa viagem soldado
volte com ouro e glória
ou sobre seu escudo


3.
Mãe, eu sei que esse nome lhe causa engulhos,
mas assim prefiro e de seu ódio assumo o risco
mãe, minha gélida-furibunda-única-mãe
eu queria não mais combater, mãe
queria lavrar como os que me ensinaste a desprezar,
amar lentamente a mulher que as Parcas me derem
sem partidas, sem despedaçamentos
vamos matar os persas e depois parar
parar de viver para matar
vamos lavrar, mãe
e viver longos anos


4.
Degreda-me então?!

Adeus meus amigos, adeus
Portões de Esparta:
tentáculos da Hidra
partam meu escudo,
harpias devorem-me enquanto parto
para que eu não use
a vergonha por cavalo

Ares, deus da cidade
Envie Nêmesis, envie
retaliação
Ares deus da guerra Ares
deus do caos abrangente
mova sua estátua, venha
até o pó venha
punir minha blasfêmia,
emudecer com seu grito

 bestial a minha fruição de paz

Sammis Reachers

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