JUSTAMENTE
“… e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à
procura…”
Mário Cesariny, “Uma
certa quantidade”
justamente — dizes
são os poetas, os que caem e vêm à procura
em cada pedra o sol
gente, pássaros de regresso ao Norte
do que já não precisamos, do que já temos
a pólvora, a gente, a agitação das ondas
a perturbação da areia
a fugir
justamente — dizes
são os poetas, os que aparecem de repente
quando já
não eram requeridos,
quando já
foram, estão substituídos
quando já a comida tem sal
que chegue, mas para que precisamos do sal
afinal, se nem temos o vinho?
justamente — dizes
são os poetas, os que doem
e fingem aqui e acolá, que não
cantam, mas emitem pássaros
que cantam por eles
quando já não são precisos
quando são poetas
Rui Miguel Duarte
23/01/13
Publicado ineditamente em Poeta Salutor
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