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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Jorge Luis Borges: O Labirinto

Sammis Reachers 

O labirinto


Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto.

(Atlas - tradução de Miguel Angel Paladino)


O Nosso

Amamos o que não conhecemos, o já perdido. 
O bairro que já foi arredores 
Os antigos que não nos decepcionaram mais 
porque são mito e esplendor. 
Os seis volumes de Schopenhauer que jamais terminamos de ler. 
A saudade, não a leitura, da segunda parte do Quixote. 
O oriente que, na verdade, não existe para o afegão, o persa ou o tártaro. 
Os mais velhos com quem não conseguiríamos 
conversar durante um quarto de hora. 
As mutantes formas da memória, que está feita do esquecido. 
Os idiomas que mal deciframos. 
Um ou outro verso latino ou saxão que não é mais do que um hábito. 
Os amigos que não podem faltar porque já morreram. 
O ilimitado nome de Shakespeare. 
A mulher que está a nosso lado e que é tão diversa. 
O xadrez e a álgebra, que não sei.

Tradução de Cleber Teixeira, Walter Costa e Raúl Antelo

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