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sábado, 29 de novembro de 2025

Fanzine SAMIZDAT #8 (2025), de Sammis Reachers - Leia ou baixe

 


O ano de 2025 já ia tombando e não tínhamos sequer um novo número de nosso malbaratado zine. Bem, problema resolvido: Este número (#8) reúne apenas poemas recentes, escritos depois da publicação de meu livro Primeiressências, lançado no doce maio. Mas 2025 foi um ano prolífico: Além de Primeiressências, volume de inéditos, publicamos ainda os e-books Versos do Ide, reunindo poemas missionais, e o plaquete 11 Poemas, reunindo um poema de cada um ou cada qual de meus onze livros de poesia.

Baixe (ou leia online) o fanzine pelo Google Drive, CLICANDO AQUI.


sábado, 22 de novembro de 2025

Queime-se pelo que é essencial: A parábola do leão solitário

 


A esperteza do leão solitário

Um leão foi aprisionado e levado a um campo de concentração, onde, para seu espanto, encontrou outros leões que lá estavam havia anos, alguns a vida toda, uma vez que ali tinham nascido.

Logo ficou conhecendo as atividades dos leões do campo de concentração. Eles dividiam-se em grupos. Um grupo era formado pelos socializadores; outro montava espetáculos; um terceiro cuidava das atividades culturais, pois seu propósito era preservar os costumes, a tradição e a história dos tempos em que os leões eram livres. Havia grupos religiosos, que se reuniam principalmente para entoar hinos sobre uma selva do futuro, na qual não haveria grades. Alguns grupos atraíam os literários e os artísticos por natureza; outros, ainda, eram revolucionários, reuniam-se para conspirar contra seus captores ou contra outros grupos revolucionários. De vez em quando, estourava uma revolução, um grupo era exterminado por outro, ou os guardas eram todos assassinados e substituídos por novos guardas.

Enquanto procurava conhecer o lugar, o recém-chegado notou um leão que parecia sempre imerso em seus pensamentos, um solitário que não pertencia a nenhum grupo e passava a maior parte do tempo afastado de todos.

Havia algo estranho nele que atraía, ao mesmo tempo, a admiração e a hostilidade de todos. Sua presença provocava medo e insegurança. Disse ele ao recém-chegado:

– Não se junte a nenhum grupo. Esses pobres tolos ocupam-se de tudo, exceto daquilo que é essencial.

– E o que é essencial? – perguntou o recém-chegado.

– Estudar a natureza da cerca.


CASTILHO, Alzira. Como Atirar Vacas no Precipício. São Paulo: Z Edições, 2022.


domingo, 9 de novembro de 2025

O que é Contentamento? Um texto de Ruth Senter

 


Contentamento É...

 

Ruth Senter

 

Eu ouvia a voz, mas não tinha condição de enxergar a pessoa. Ela estava do outro lado do armário do vestiário. Acabara de chegar da aula de natação matinal. Sua voz assemelhava-se à própria manhã: forte, animada, cheia de vida. Às 6h 15 da manhã, atrairia a atenção de qualquer pessoa. Eu ouvi sua voz firme:

— Dolores, gostei muito do livro que você pegou para mim na semana passada. Sei que a biblioteca fica fora de seu caminho. Não consegui parar de ler. Solzhenitsyn é um grande escritor. Estou feliz por você ter-me sugerido o livro dele.

— Bom-dia, Pat — ela cumprimentou outra nadadora. Por um instante, a voz melodiosa calou-se. Em seguida, ouvi-a dizer: — Você já viu um dia tão esplêndido como este? Vi um par de cotovias enquanto caminhava esta manhã. Isso nos traz alegria de viver, não?

O tom da voz era bom demais para ser verdade. Quem pode ser tão agradecido a essa hora da manhã? A voz dela tinha um certo requinte. Talvez fosse uma mulher rica, sem nada para fazer o dia inteiro, a não ser tomar uma xícara de chá em sua varanda e ler Solzhenitsyn. Eu ficaria animada às 6 horas da manhã se pudesse nadar e ler um livro ao longo do dia. Ou se possuísse uma casa de campo nos bosques do Norte.

Contornei o armário em direção aos chuveiros e fiquei frente a frente com a dona daquela voz jovem. Ela estava arrumando seus apetrechos. O uniforme amarelo de faxineira ficava bem assentado naquela mulher de uns 50 anos. Era um uniforme que eu conhecia, acompanhado de vassouras, esfregões, panos de pó e baldes. Uma empregada do local onde eu nadava. Ela deu um leve sorriso para mim, pegou sua sacola de plástico das Lojas Americanas e caminhou apressada em direção à porta, dizendo: "Tenha um glorioso dia" a todos que encontrava.

Eu não consegui tirar da mente aquele uniforme amarelo, enquanto dava minhas braçadas e afundava o corpo na espuma da piscina de hidromassagem. Meus dois companheiros estavam entretidos em uma conversa. Pelo menos um deles estava. Sua voz cansada e triste falava de dores nos joelhos causadas por artrite, aneurisma no coração, noites sem dormir e dias repletos de mal-estar.

Nada estava bom ou na medida certa. A água estava quente demais, os jatos d'água não eram suficientemente fortes para seus joelhos endurecidos, e os médicos haviam demorado muito para diagnosticar seu caso. Com sua mão enfeitada com um anel de brilhante, ele retirou a espuma branca do rosto. Parecia um ancião, mas suspeitei que também tivesse uns 50 anos.

O uniforme amarelo e o anel de brilhante, surpreendente e silencioso contraste, provaram mais uma vez para mim que, quando Deus diz que "religiosidade. acompanhada de contentamento significa prosperidade", Ele quer dizer exatamente isso. Naquela manhã, eu vi contentamento e descontentamento. Tomei a decisão de jamais me esquecer disso.

De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” – 1 Timóteo 6:6-10

Do livro Histórias para o Coração, de Alice Gray (org.)