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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Dois poemas de Teresinka Pereira

 


MERCADO DE POESIA

 

Letras em púrpura

lírica destilada

em riso e pranto,

sabor de fruta fresca

e cheiro de folhas ao vento.

Sobre o balcão

os poemas são essências

de uma linguagem perdida

de tinta em silêncio.

Não pulsam, mas ardem

enquanto o olho do poeta

no canto do mercado

parece um punhal de pedra

esperando o comprador.

 

 

 

TRABALHO DE POETA

 

Estou em uma selva de nervos.

Dizem que o estresse

vem do trabalho excessivo,

vem de dormir a manhã inteira

e de levantar-me ao meio dia

descansada e triunfante

para viver a palavra

que se detém em outros lábios.

 

Mas, não. O trabalho do poeta

embora seja como

um poço sem fundo,

é também como um tango

bem ou mal cantado

que padece nos círculos espaciais.

 

Minha dor não vem do trabalho:

ao contrário, meu trabalho

vem da dor, do verso de pedra

que faz explodir o horror

enquanto espero a vida

começar outra vez.


Fonte: Pavilhão Literário Singrando Horizontes