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domingo, 25 de fevereiro de 2018

O GRUPO, poema de Paulo Cavalcanti de Moura


O GRUPO

Paulo Cavalcanti de Moura

O grupo é assim:
Gente que é gente
E que não sabe que os outros são gente
Como a gente,
Com um lado bom e outro ruim

No grupo tem de tudo:
Botucudo e tupiniquim.
Tem falador e tem mudo,
Mas ninguém é igual a mim.

Tem doutores e tem tímidos,
Agressivos e dominados
Tem mãe e tem filhos,
Tem até mascarados.

E o grupo vai girando,
Mudando a vida da gente
O calado sai falando,
O pessimista contente

O grupo é como a vida,
Mas se entra, já vamos indo
Quem ri acaba chorando,
Quem chora, acaba rindo

Uma coisa a gente aprende:
Que o outro é como eu
Chora, ri, ama e sente
Mas quase tudo depende da gente:
Que  grupo danado! Que vivência atroz!
O eu e o tu se atacam
Mas depois eles se amam,
Em benefício de nós.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

SYLVIA PLATH ON THE BEACH (27/10/1932 - 11/02/1963)




À beira do mar, na areia do meio-dia

Os teus lábios mantêm um sorriso inconsumível

Nem o vento arranca fios de ouro aos teus cabelos

Na pose de quem tem os olhos nas coisas singulares.

Todo o princípio da poesia

Sob a capa transparente do sol ao longo do teu corpo

preparavas o salto felino da beleza

que ainda hoje nos devora.



11/02/2018

© João Tomaz Parreira

sábado, 3 de fevereiro de 2018

LISBOA, 1494



Lisboa, 1494

Dois anos antes de 1496, dois anos antes do Rei Manuel I, bem intencionado filho comum da Idade das Trevas, expulsar os judeus de Portugal: Um sábio rabi, judeu lisboeta solitária e espontaneamente converso a Cristo, desejoso de auxiliar com sua sabedoria o avanço do Reino, ao iniciar de cada dia, assim orava a Sabaoth o Santíssimo:
- O que posso fazer hoje pelos que te servem?
E, no dia seguinte, divergia sua oração nest’outro sentido:
- O que posso fazer hoje pelos que te amam?

Pois, sem horror ou escândalo, sentimentos próprios das bestas e dos noviços, o sábio havia aprendido que nem todos que O amam O servem, e nem todos que O servem O amam. Com desprezo pelo paradoxo, o auto sacrifício perfeito de um sábio, resignava-se a soldado e cumpria o seu papel.

Sammis Reachers