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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

NUIT DE NOËL (Sobre Paul Gauguin, 1902)







Onde a casa tosca se escondia e o feno
Estava sempre quente, não foi aí que Gauguin
Viu o natal. A cena da natividade dos antigos
Mestres conhecia, todos pintavam a manjedoura
Como uma cena celeste, ele revelou
Os animais com a reverência alegre no olhar
Pastoras com olhos polinésios e a neve
Como a lã a cobrir o inverno da Bretanha
Maria e José à porta do abrigo
Com a linguagem extasiada do silêncio
Mostravam o Menino, numa boa-nova tropical.


22/12/2017

© João Tomaz Parreira 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Para os Que Virão, poema de Thiago de Mello


Para os que Virão

Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
muito mais sofridamente - 

na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.