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quarta-feira, 31 de maio de 2017
As Pessoas Sensíveis, poema de Sophia de Mello Breyner Andresen
As Pessoas Sensíveis
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
“Ganharás o pão com o suor do teu rosto” Assim nos foi imposto
E não:
“Com o suor dos outros ganharás o pão”
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoais–lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto
quarta-feira, 17 de maio de 2017
À ENTRADA DA TERRA DO LEITE E MEL
À ENTRADA DA TERRA DO LEITE E MEL
(Livro
de Números, XIII )
Como os olhos dos doze às portas do leite e do mel
o desânimo vai ter olhos e as alegrias diante das
videiras
de enormes cachos
serão menores que o medo
o desânimo fará aumentar nas retinas
a estatura dos homens, gigantes como colossos
ocupam as portas,
o medo bate nos olhos
o desânimo aconselha cuidados, regressar
às areias do deserto, à cabeça escondida na areia
e às sombras dos pequenos arbustos, não temos
ainda braços para
abraçar a Terra Prometida.
16-05-2017
© João Tomaz Parreira